27 mayo, 2008

Família Rockefeller arma batalha por mudanças na Exxon Mobil

Leslie Eaton e Russell Gold
The Wall Street Journal

Vinte anos atrás, Neva Goodwin Rockefeller ficou tão cansada de toda a bagagem que vinha com seu sobrenome famoso que mudou de nome e passou a ser apenas Neva Goodwin.

Mas agora, aos 63 anos, ela está abraçando o poderoso nome Rockefeller para atacar publicamente a diretoria da Exxon Mobil Corp., sucessora da petrolífera fundada pelo bisavô dela, John D. Rockefeller. Como Neva Rockefeller Goodwin, ela tem convocado outros Rockefeller com vários graus de parentesco para se juntar a ela numa campanha para forçar grandes mudanças numa das empresas mais lucrativas do mundo. A batalha chegará ao clímax na assembléia geral de acionistas da Exxon em Dallas quarta-feira.

Alguns membros da família entraram na briga por acreditar veementemente na ameaça do efeito estufa; outros por temer que a Exxon não esteja enxergando oportunidades de negócios ou riscos. Muitos parecem ofendidos por a companhia parecer impermeável aos desejos dos acionistas, inclusive os que se chamam Rockefeller.

E eles têm lutado — nem sempre com sucesso — contra o sentimento de que brigar publicamente com a Exxon não seria correto. Afinal, David Rockefeller, de 92 anos e ex-presidente do conselho do Chase Manhattan Bank, ensinou a eles que militância de investidores é "na maioria feita por malucos", diz sua filha, Goodwin, uma economista da cidade de Cambridge, Massachusetts, Estado do nordeste dos EUA.

Quinze membros da família, a maioria primos distantes de Goodwin, apresentaram-se para promover quatro propostas de acionistas que exigem mudanças na Exxon. Embora três abordem questões de aquecimento global e combustíveis renováveis, os Rockefeller têm sido mais entusiásticos em relação a uma quarta proposta para nomear um presidente independente para o conselho, um plano que segundo eles é apoiado por 73 descendentes diretos de John D.

Um presidente independente, argumentam eles, traçaria uma estratégia para o futuro da Exxon que muitos deles esperam incluiria maior foco em energia renovável. Eles também acreditam que essa pessoa — a quem o diretor-presidente responderia — poderia ser mais sensível às preocupações dos acionistas.

A Exxon rejeita completamente tanto a necessidade de um presidente do conselho independente quanto a de investir mais em combustíveis renováveis. Rex Tillerson, que acumula as presidências executiva e do conselho, diz que seu trabalho é proteger o investimento dos acionistas ajudando os milhares de engenheiros e cientistas da companhia a se concentrar no principal negócio: petróleo e gás natural. A empresa afirma que petróleo e gás continuarão a gerar o grosso das necessidades energéticas e que está trabalhando para providenciar o combustível necessário.

"Somos uma empresa de petróleo e petroquímica", disse ele ao Wall Street Journal. "Na verdade, achamos que somos a melhor do mundo e que nosso desempenho tenderia a corroborar isso."

As chances de a família conseguir o que quer são remotas. Como acionistas que detêm só uma pequena fatia das 5,3 bilhões de ações com direito a voto da Exxon, é em seu nome que os Rockefeller depositam as chances de ganhar atenção e atrair outros acionistas. O fato de que a Exxon acabou de encerrar o ano mais lucrativo da história empresarial americana não ajuda a causa da família. No ano passado, a companhia divulgou lucro de US$ 40,61 bilhões. A cotação das ações da empresa mais que dobrou nos últimos quatro anos.

Às vésperas da assembléia de quarta-feira, os geralmente reservados Rockefeller têm feito de tudo para defender suas propostas, inclusive uma entrevista coletiva num hotel em Nova York e um slogan para a campanha: "Exxon para os Donos".

Peter M. O'Neill, 45, filho de uma prima de Goodwin, está fazendo algo que geralmente é um anátema na família: atuar como porta-voz e dar entrevistas.

É um episódio sem precedentes no clã, que é politicamente diversificado, diz Peter J. Johnson, um historiador da família que tem trabalhado para os Rockefeller há 32 anos. "Obter consenso na família é raro", diz.

A primeira tacada dos executivos da Exxon contra a possível influência dos Rockefeller foi observar a repórteres que os membros da família que apóiam as propostas têm apenas 0,006% das ações da empresa.

Membros da família dizem que têm muito mais, mas não dizem quanto. Eles dizem que a maioria dos investimentos da família está num grupo de fundos estabelecidos em 1934 e na maioria administrados por uma divisão do J.P. Morgan Chase. Alguns dizem que não contam nem a parentes quanto detêm.

Dia 12 de maio, a Exxon enviou uma carta aos acionistas pedindo que rejeitassem a proposta de presidente independente do conselho sob o argumento de que "não há um modelo de governança que sirva para todas as companhias".

Os Rockefeller estão armando a mais séria revolta de acionistas contra a Exxon na memória recente. Mas têm diante de si uma empresa de sucesso sem igual na prospecção, extração e refino de combustíveis fósseis. A Exxon conseguiu ganhar bilhões de dólares por ano com petróleo caro ou barato.

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